segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Terra Fértil


Bem que se pode querer atirar areia para os olhos de quem nos lê - veja-se o cabeçalho do blog - mas não há volta a dar. O nosso país político é um viveiro de episódios dignos das melhores séries cómicas britânicas.
Como se sabe, uma cópia por muito bem feita que seja, nunca se aproxima do original. Nota-se sempre o esforço de replicar o molde. Não há volta a dar!
Falo, a este propósito, de José Sócrates e do estilo pateticamente autoritário que procura seguir, tenho em mente o que observou há mais de 10 anos quando Cavaco Silva era Primeiro-ministro. Seja o tom de voz, em que ninguém acredita, seja a forma como discursa, Sócrates vive encerrado numa realidade paralela. É um homem que acredita corporizar a mudança que o país tanto precisa há anos. Acontece que nas políticas seguidas, o actual Primeiro-ministro parece esquecer que governa para alguém. Esse alguém são os milhões de portugueses que, ano após ano, aguardam que Portugal se transforme num país onde o bem público seja respeitado como algo que pertence a todos e não como algo que possa ser apropriado por alguns.
Os casos são tantos que se tornaria fastidioso fazer uma lista, mas deixo o ainda quente dossier BPP para que se perceba do que falo. Parece-me a mim, mas posso estar errado, que quando se investe no mercado de capitais, a palavra risco é uma das variáveis em jogo. Parece-me que quando os clientes do BPP foram recompensados com dividendos consideráveis devido às opções dos gestores de fundos, EU não lhes fui pedir uma ajuda para comprar o meu automóvel, mudar de televisão ou ir de férias pela Europa. Parece-me, digo eu...
Naturalmente que, neste caso, houve pessoas burladas a quem foi dito que o risco era mínimo na aplicação das poupanças de uma vida, sendo que afinal os gestores estavam a apostar no vermelho/par quando depois saiu tudo no preto/impar. Isso são casos de polícia.
O que acabou por se passar revela a típica forma portuguesa de passar pelas coisas. 
Discute-se muito, argumenta-se num sentido, defende-se noutro, mas no fim arranja-se sempre um pensinho rápido para custar menos a suportar a dor. Ainda hoje nos orgulhamos da forma como decorreu o 25 de Abril. Quase sem tiros. Sem sangue derramado. A revolução dos cravos, etc. Ainda no outro dia vi no youtube imagens dos momentos junto ao Quartel do Carmo e pensei: que raio de povo é este que - depois de quase 4 décadas a levar na cabeça de uma cambada de gente da província, mesquinha, pequenina de cabeça - vem para as ruas apoiar os militares em rebelião e não despacha pelo menos 10 caramelos do "antigamente" só por desporto? Tive saudades das aulas de história e da revolução de 1383-85 que resultou no reinado de D. João de Avis. Aí sim, ainda corria algum sangue quente nas veias portuguesas. É esta falta de capacidade de luta, mesmo que sem objectivo pré-definido, que me impressiona no nosso país. Uma incapacidade de mandar tudo para o caralho quando o abuso é demasiado.
Chega de entendimentos entre a banca e o governo. Chega de entendimentos entre os pelintras da província que nos representam no Parlamento. Chega de senhores que abandonam funções de governo ou partidárias e passam para CEO's de grandes empresas que têm negócios de milhões com o Estado. Chega de sermos governados por tipos que viveram nas aldeias ou atrás das montanhas. Chega! 
Claro que Portugal não é dos que vivem nas cidades, mas é quase uma verdade científica que alguém que tenha vivido até à adolescência ou ao início da idade adulta num meio com 2 mil pessoas, fique deslumbrado quando chega a Lisboa. Isto apesar de Lisboa ser uma cidade de dimensão média na Europa actual. E o que se passa, meus amigos, é que se olharem para os protagonistas de algumas das mais recentes trapalhadas reparem só onde eles nasceram.

 

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